Saudade é aquele sentimento nostálgico, que nos remete a alguém ou alguma coisa que faz falta. Sensação afetuosa e por vezes melancólica que em alguns casos – neste específico – pode ser reavivada. Como não morrer de saudades do estádio Mário Filho, o Maracanã? Um gigante forçadamente adormecido e que está – finalmente – prestes a reabrir os olhos e voltar a brilhar. Fechado desde o dia 05 de setembro de 2010, quando foi palco do insosso empate sem gols entre Flamengo e Santos, pelo Campeonato Brasileiro, o Maracanã passa por uma reconstrução para a Copa do Mundo de 2014. “Estuprado” por uma obra agressiva que praticamente pôs o antigo maior do mundo abaixo, o estádio evidentemente se tornará um dos mais modernos do mundo, mas com certeza não será mais aquele Maracanã dos meus avós, dos meus pais e até meu e dos meus contemporâneos. Aquele Maraca, das multidões, da geral, de tanta tradição, infelizmente acabou, não existe mais. Ainda assim, acredito que o novo Mário Filho retomará sua trilha de sucesso e voltará a fazer o povo carioca sorrir.
Frequentador assíduo e rubro-negro fanático, tenho incontáveis recordações de jogos no Maracanã, sejam tristes ou alegres. Impossível não relembrar a Copa União de 1987, aquela vitória sobre o Internacional, aquele gol de Bebeto. Impensável não se emocionar ao lembrar da despedida do Galinho em fevereiro de 1990 ou ficar arrepiado ao reviver o título Brasileiro de 1992, com o maestro Júnior colocando o Botafogo de Renato Gaúcho no bolso. Claro que há momentos decepcionantes, que marcaram bastante também, como aquele Fla-Flu emocionante da final do Carioca de 1995 com o famoso gol de barriga de Renato. Felizmente – para rubro-negros como eu –, a última lembrança é de um Maracanã lotado, naquele inesquecível dia 06 de dezembro de 2009, quando o Mais Querido viveu uma tarde fantástica, vencendo o Grêmio por 2x1 e conquistando o hexacampeonato nacional.
Tudo isso, inegavelmente, não é possível sentir ou presenciar no Engenhão. Não na mesma intensidade. Mal localizado, frio e que definitivamente não caiu nas graças dos torcedores, o estádio não pegou. Não tem apelo e acabou afastando aquele torcedor que não perdia um jogo sequer no Maracanã. O Engenhão parece não pertencer ao Rio de Janeiro. Parece um estádio caído de pára-quedas na cidade, sem identificação e sem carisma para – ao menos – “segurar as pontas” até o retorno do gigante adormecido. Não tenho a petulância de desmerecer o importante título brasileiro conquistado pelo Fluminense em 2010 no Engenhão, mas duvido que os próprios Tricolores enxerguem nesse título um dos mais marcantes e emocionantes de sua história. Talvez para os mais jovens, pela ausência de outras conquistas recentes. Mas a verdade é que dar a volta olímpica no Engenhão é uma coisa, no Maracanã outra, completamente diferente. Ser campeão no estádio mais importante e tradicional do mundo é uma sensação ímpar. Só quem teve esse prazer é capaz de entender.
Infelizmente por um lado, mas felizmente por outro, o tempo realmente voa. E por conta dessa pressa do relógio, estamos finalmente nos aproximando da reabertura do Maracanã. Provavelmente no início de fevereiro de 2013 já teremos o prazer de poder voltar a assistir aos jogos num estádio decente, histórico e adorado por todos os cariocas. Como quebra-galho, o Engenhão até fez seu papel de forma honrosa, sendo massacrado com jogos em sequência, mas definitivamente não está à altura de ser palco de grandes cotejos dos quatro grandes do Rio de Janeiro.
Por todos estes motivos, não vejo a hora de parar de sofrer a cada partida disputada no Engenhão, seja no trânsito da chegada ou no caos da saída. O Maracanã é a cara do carioca e mais ainda, a cara da dupla Fla-Flu. Ninguém aguenta mais o limitado estádio João Havelange. Nem os atletas, que sofrem com o péssimo gramado. Quero meu Maraca de volta! Quero aquela atmosfera, aquela massa pulando feliz no maior do mundo. Volta, Maraca! O torcedor carioca não aguenta mais viver sem você.
Pablo dos Anjos
Twitter: @PabloWSC
