Sou do tempo em que assistir a
jogos no Maracanã era motivo de alegria, expectativa e satisfação. Época boa em que Maraca e Flamengo
eram como marido e mulher. A sinergia da dupla sempre foi marca registrada da
Cidade Maravilhosa. Sem falsa modéstia, você só consegue entender a mística do
estádio quando vê o Mais Querido jogar naquele gramado apoiado pela massa
rubro-negra. Algo inexplicável!
Saudosismo à parte, o que estão
fazendo com o torcedor carioca é uma vergonha! Não bastasse o assalto aos
cofres públicos para a construção do New
Maracanan, que passou de 1 bilhão de reais e ainda não está concluído,
querem moldar o torcedor, ensinar nossa gente a torcer nas novas arenas. Um
descalabro! Uma puta falta de desconsideração, diria o outro. Dona FIFA, consórcio e governo do Rio ocuparam os estádios da cidade, praticamente instauraram uma
ditadura esportiva, acuando os torcedores e os forçando a usar tapa-burro de
cavalos, como se fossem alienados e massa de manobra. Querem transformar o
futebol carioca e brasileiro numa excitante e imperdível partida de bocha. Mas
eles não irão triunfar. Nós não podemos permitir que os desmandos se perpetuem
e que acabem com nossa maior fonte de alegria e entretenimento.
Tenho 34 anos e frequento o
Maracanã desde o início dos anos 80, apesar de ter apenas uma memória mais
marcante a partir de 1987, ano em que o meu Flamengo conquistou o Campeonato
Brasileiro na final contra o Internacional. Sou da época da almofadinha branca
com escudo do Flamengo – presente do meu querido avô. Sou do tempo da torcida
empoleirada nas arquibancadas de cimento, com 3 filas de pessoas em cada
arquiba. Sou da época em que assistir aos jogos em pé não era uma opção, mas
uma obrigação e um prazer. E também sou daquele tempo em que tirar a camisa
quando o calor era sufocante fazia parte do contexto. Afinal de contas, somos
cariocas, ora bolas!
O nome do que estão tentando
fazer com o futebol do Rio é assassinato. Estão matando – ainda que lentamente
– o futebol carioca. O torcedor está sendo praticamente intimado a torcer de
casa, na monotonia do sofá. Como gosto de torcer em pé, de tirar a camisa e de
cantar junto com as organizadas e seus instrumentos musicais e bandeiras, chego à
conclusão de que não pertenço mais ao burguês círculo de frequentadores do novo
estádio, por acaso, ainda chamado de Maracanã.
De preços abusivos à falta de
liberdade para torcer, o que se vê é uma clara tentativa de cercear o direito
do torcedor de apoiar seu clube de coração. Como apaixonado por estádios, pelo
Maracanã e pelo Flamengo, fico triste e apreensivo pelo futuro que nos reserva.
Tenho medo de conseguirem destruir nossa cultura, nossa forma de pensar, de
sentir, de apoiar nossos times. O futebol que eu aprendi a amar não é esse. E o
torcedor é quem vai acabar pagando o pato. Algo precisa ser feito! Futebol não é teatro!
Pablo dos Anjos
Twitter: @PabloWSC